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junho 28, 2017

Exame de Português não será anulado? Boa, Sr. Ministro!


Defendo um ensino de qualidade estimulador de aprendizagens consistentes que articulem conhecimentos e competências.
Quanto aos exames, nunca fui (nem sou) grande fã. Uma revisão da literatura sobre o assunto não deixa dúvidas. Recorrendo a uma das obras mais emblemáticas neste domínio (“Evaluation continue et examens : précis de docimologie”, de Robert de Landsheere), está lá, preto no branco, que os exames têm o efeito perverso de afunilamento do currículo. Os professores e alunos trabalham os exames e para o que é neles valorizado. À volta dos exames, inventam-se cadernos de exercícios de treino (fonte apetecível de rendimentos para as editoras), explicações “à la carte” para todos os gostos e os famosos e não menos perversos rankings
E os exames não podem ter contrapartidas positivas? Podem, numa única circunstância: se forem bem construídos, com validade e fiabilidade sólidas. Continuará a haver afunilamento do currículo, mas será um afunilamento atenuado pela qualidade do “modelo” que professores, alunos, editoras e explicadores vão replicar até à exaustão. 
Os exames do nosso sistema educativo são de qualidade? Não os conheço todos, mas a ideia que tenho é que se transformaram num ritual complicado, com erros e broncas aqui e ali e critérios de correção que, sob o pretexto atingirem o suprassumo da objetividade, são um verdadeiro suplício de Tântalo para os corretores.
Quando li esta notícia, fiquei de boca aberta:
Apesar das suspeitas de fuga de informação, o Ministro da Educação garante que exame de Português não será anulado ou repetido
O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, garantiu hoje que o exame de Português do 12.º ano, cuja eventual fuga de informação está a ser investigada, não vai ser anulado.
Segundo o ministro, caso se confirme que houve uma fuga de informação, "o ministério agirá civil, disciplinar e criminalmente contra o seu autor ou autores.
"Se alguém saiu beneficiado, sofrerá as consequências previstas no regulamento", declarou.

Ou seja, o Ministro admite a possibilidade de ter havido a fuga de informação, mas não anula o exame, pois o ministério irá castigar os seus autores. E mais: se alguém saiu beneficiado, irá ser descoberto e punido. Ingenuidade ou apenas vontade de não ser "chateado" e ir pra férias como se nada se tivesse passado?
Qual à validade deste exame, estamos conversados!
Já agora, é bom recordar o que disse, em janeiro de 2016, o atual Ministro da Educação sobre o modelo de exames: "errado e nocivo". 
Abraço para todos, em especial para os colegas que andam a vigiar, a corrigir e a secretariar estes maravilhosos instrumentos do complex em que se transformou o trabalho nas escolas desde o reinado da Sr.ª D. Maria de Lurdes Rodrigues!
ProfAP
Imagem da revista VISÂO online.

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